Arquivo mensal: setembro 2012

TÁ NO “TEMPO DA POLÍTICA”…SEM POLÍTICA?

O Brasil encontra-se no auge do período eleitoral, eleições municipais de 2012. Há um desfile alucinante, nos programas de TV de candidatos a vereadores (as) e prefeitos (as).

O “tempo da política”! Uma das fases mais ricas e instigantes do processo político nos países democráticos. É o momento em que a sociedade escolhe seus novos representantes, tanto para o parlamento como para gerir o aparelho de Estado. É o tempo da discussão, do debate, da análise das propostas, da tomada de posições ideológicas, do julgamento das trajetórias partidárias, pessoais e administrativas, das esperanças e apostas para um futuro desejável.
No entanto, o que ocorre é um vazio melancólico. Uma comercialização da propaganda eleitoral, onde os candidatos são mercadorias, oferecidas e vendidas, a um público consumidor, de preferência pouco exigente. Vereadores comparáveis a sabão em pó, prefeitos a aspiradores de pó ou fogões de cinco bocas. O discurso dominante é uma gincana contábil. As propostas são: vou construir 200 creches, liberaram 147 construções de prédios em Florianópolis, vou passar o tapete preto em 50 Km das ruas da cidade, vou asfaltar todas as ruas, vou contratar duas centenas de médicos e enfermeiras, o candidato X faltou 42 sessões na Assembléia, o outro faltou 33%, vou conseguir 10 bilhões de reais para o município e assim se passam os dias…
Os cidadãos e cidadãs opinam muito pouco, a não ser mediante depoimentos ensaiados na propaganda televisiva e no rádio.
Mas, afinal, por que tudo isso? Essa quase completa aridez ideológica, o predomínio de formulações meramente administrativas, uma pasteurização do pensamento crítico, uma deseducação política sistemática dirigida ao povo, propostas que precisam ser inócuas devido à esquizofrenia das alianças partidárias. Quase impossível distinguir quem é quem. São materialistas com pastores evangélicos, pefelistas com socialistas, neoliberais com trabalhistas, ex-integrantes da ditadura militar com ex-militantes de esquerda, misturas extravagantes a demonstrar a miséria ideológica, ética e conceitual que torna quase todos adeptos de hipocrisia, alienação, paz e amor!!
Como cenário urbano o visual externo parece o da parábola dos “sepulcros caiados”. São tantas as proibições para as propagandas de rua, nada pode, tudo polui, tudo suja, tudo empesta a cidade. Não mais as alegres e irreverentes pichações, colagem de cartazes, pinturas nos muros e tapumes, bandeirolas nos postes, panfletagens, militantes ostentando camisetas e símbolos dos seus partidos e candidatos. A elite dominante, a burguesia e seus arautos sorriem satisfeitos com a agonia da irreverência, das atitudes libertárias, da rebeldia, do sabor da dissidência e da ira sagrada dos oprimidos.
A judicialização da campanha, a penalização das manifestações populares e partidárias faz com que a cidade aparentemente morta e limpa, apodreça visceralmente de tédio e cansaço da mesmice. Nada de ideologia, nada de confronto, nada de controvérsia. São garantidas todas as condições para o continuísmo e a submissão à realidade opressiva da exploração capitalista.
A eleição virou o espaço da contabilidade, da assepsia, da morte da política. Só que, anestesiar o pensamento político é uma decisão política. Vale pensar sobre essa forma de alienação.
Será que morreu o tempo, em que o grande Ho Chi Min dizia que “a revolução é a poesia da História”? E que eu, ousadamente, plagio, dizendo que a eleição é a poesia da democracia?
Não será esta, a hora de começar a reação? De iniciar a crítica ao capitalismo neoliberal e seus efeitos? Não seremos humanos o suficiente para preservar o instinto vital? Que é alimentado pela paixão, pela consciência de si, e em si, pela presença do outro, pelo prazer de criar, procriar, viver e contestar.